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“Lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino” (Lucas 23, 42).
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Lembra-te de mim...
Lá estava Ele, pregado em uma cruz ao meu lado! Uma grande multidão assistia sua morte lenta e, como se já não bastasse tamanha condenação, muitos zombavam e o humilhavam publicamente.
Seu castigo parecia ter sido muito maior do que o meu... Seu corpo totalmente chagado e seu rosto desfigurado chamaram muito minha atenção. Tentei ler o que havia escrito em uma placa acima de sua cabeça, mas não consegui. “Quem era aquele homem?” perguntei interiormente.
Que crime hediondo e repugnante Ele havia feito para merecer tanto ódio e tanto castigo? Por um momento, minha dor pareceu pouca comparada daquele Homem. Eles não O deixavam em paz por nenhum minuto.
Eram palavras malditas a todo o momento e os soldados o maltratavam sem parar. Senti um pouco de agonia ao ver a situação daquele Homem, que padecia da mesma condenação que eu multiplicada por mil.
Porém, o mais impressionante era que Ele não reagia... Seu silêncio doloroso golpeava todos os presentes e os deixavam ainda mais revoltados. Ele parecia ser mudo... Nada conseguia tirar sua paz interior e era exatamente isso que me incomodava mais.
Deduzi que Ele poderia ser um condenado religioso, pois havia sacerdotes do Templo que também assistiam a crucificação. O mais estranho de tudo é que eu não conseguia tirar os olhos daquele Homem.
Ouvia cada respiração ofegante e cada sussurro de dor! Eu me sentia estranho perto Dele. Sua bondade e ternura me golpeavam por dentro e me fazia lentamente voltar para a minha miserável condição...
Percebi que rapidamente Ele voltou os olhos para mim... Parece que tinha percebido o quanto eu estava assustado com tudo aquilo e esboçou um leve e terno sorriso.
Aquele olhar entrou profundo em meu ser... Não sei explicar o que houve... Por um rápido instante comecei a rever todos os meus erros passados e todas as escolhas erradas de minha vida que me levaram até aquele momento...
Minha respiração ficou ainda mais rápida e a única coisa que gostaria de ter era uma segunda chance... Por um momento lutei contra aqueles pensamentos...
Eu que sempre fui ladrão estava sendo roubado por aquele olhar... Totalmente perdido, não conseguia compreender o que estava acontecendo... Olhando para aquele Homem condenado eu encontrava conforto para todas as minhas angústias e sofrimentos...
Foi então que parei de resistir e decidi me perder naquele olhar, até ser interrompido por alguém da multidão que gritou: “Se és o Filho de Deus, salva-te a ti mesmo”.
“Filho de Deus?” perguntei em pensamento. Desviei rapidamente meus olhos para o sacerdote que gritou e imediatamente pude ouvir a resposta daquele Homem: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Aquelas palavras entraram como uma espada em meu coração! Voltei novamente meus olhos para aquele Homem e tentei enxergar o Filho de Deus escondido naquele corpo chagado.
Um dos soldados lhe ofereceu vinagre em suas feridas e disse “se és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” enquanto os outros dividiam suas vestes.
Tudo fazia sentido agora... Aquele Homem não era como eu... Não havia cometido crime algum... Não merecia estar lá... Isso estava muito claro para mim... Profundamente comovido, voltei os olhos para uma mulher que ajoelhada aos pés da cruz, chorava e permanecia com o mesmo silêncio.
Meu coração não tinha dúvida... Aquele era o Rei dos judeus! Minha razão insistia em duvidar, mas de forma estranha, meu coração havia encontrado esperança naquele Homem e na forma que tinha de amar e perdoar seus inimigos.
Enquanto todos os presentes duvidavam, blasfemavam e O desafiavam eu desejava encostar minha cabeça em seu peito e pedir perdão dos meus pecados. Senti que ali estava a minha salvação...
Meu coração parecia explodir no peito e por isso, não agüentei ao ver meu antigo parceiro do crime blasfemar contra aquele Homem bom. Imediatamente o repreendi e tomei coragem, dizendo: “Mestre, lembra-te de mim quando tiveres entrado no Teu Reino”.
Aquela tinha sido a maior escolha da minha vida. Foi maravilhoso ver novamente aquele olhar terno voltando-se para mim ao ouvir meu pedido. Com muito amor e misericórdia Ele me respondeu: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”.
Ao dizer isso Ele sorriu levemente. Enquanto todos viam um homem derrotado e fracassado em uma cruz, eu consegui, não sei bem como e nem porque, enxergar o Filho de Deus abrindo as portas do céu.
Por isso eu posso dizer com toda certeza: Jesus Cristo é o Rei do universo e fiel em suas promessas e o lugar que estou hoje nem os olhos viram, nem ouvidos ouviram e nenhum coração jamais sentiu.
Quem sou eu? Alguns me chamam de o “bom ladrão”, mas prefiro ser a prova viva do amor incondicional e da misericórdia infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo, que me salvou quando nem eu mesmo acreditava na minha salvação.
Dimas
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Adryadson Flabio Nappi
Professor, contador, teólogo, músico e escritor