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“Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?’. Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tudo sabes que te amo.’ Jesus disse: ‘Cuide dos meus cordeiros’ (João 21, 15).
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Tu me amas?
Tudo começa pela lógica do coração. O teólogo Leonardo Boff, em sua “teologia do cuidado”, afirma que o dado originário das relações humanas não é o “logos” (razão), mas o “pathos” (sentimento), ou seja, a capacidade de simpatia e empatia, a dedicação, o cuidado e a comunhão com o diferente.
Boff usa tal afirmação para defender sua posição ecológica e ambiental, respeitada no mundo todo, diga-se de passagem. Porém, esse argumento pode ser estendido para toda a dimensão humana.
Claramente, no trecho do evangelho de João, Jesus mostra sua forma de escolher seus líderes. Ao perguntar para Pedro sobre a profundidade de seu amor, claramente Cristo coloca a “lei do amor” em primeiro lugar.
A confirmação da missão de liderança de Pedro se dá através do amor que ele tem para com Jesus. É praticamente assim: se tu me amas, cuida dos meus! O amor claramente foi o primeiro e maior requisito que Jesus encontrou em Pedro, um homem simples, rude e de poucas letras.
Quem poderia imaginar que a chave da porta do céu seria dada para um homem como Simão? Aquele mesmo Simão que um pouco antes havia negado por três vezes? Essa é uma pergunta que muitos não conseguem responder!
Na verdade, não foi por acaso que Jesus perguntou por três vezes, mas porque era necessário que existisse a cura das três negações anteriores. Cristo quer nos mostrar que, por muitas vezes, ainda que tenhamos um amor profundo, o erro é inevitável.
Porém, o maior antídoto para o erro é o amor, através de um fruto chamado perdão. Foi assim que Cristo conseguiu enxergar Pedro (Cefas – que significa pedra) em um simples homem chamado Simão.
Começo então a compreender que a vida é um emaranhado de perdas e vitórias, choros e risos, dores e alegrias, todas guiadas pela lógica do amor que não tem a menor lógica.
A experiência do amor que não passa pelo que fazemos ou deixamos de fazer e muito menos pelo que temos ou deixamos de ter. O amor que vai muito além, trazendo a experiência do ser.
E pensar que passamos a vida tentando compreender algo que não precisa ser compreendido, apenas vivido. Creio que nem mesmo Pedro compreendeu o porquê de Cristo o ter escolhido. A experiência de ser amado incondicionalmente por alguém que traí! Não era uma prova de coragem ou de inteligência... Cristo não precisava disso! Ele apenas compreendeu o medo humano que Pedro sentiu naquele instante, e o amou simplesmente por amar... Sem rodeios... Sem questionamentos... Sem limites...
E ainda assim, deixou o projeto de implantação do seu Reino nas mãos daquele homem apaixonado, porém, muitas vezes, medroso, fraco, rude... Conta-nos a Tradição que Pedro pensou em desistir no meio do caminho para Roma e mais uma vez Jesus enviou um anjo para confortá-lo e encorajá-lo.
Após pensar em tudo isso, comecei a compreender que a maior virtude de um homem que deseja liderar é conseguir amar sem limites. Porém, nunca vi essa “qualificação” escrita em nenhum currículo de nenhuma pessoa que deseja liderar.
Enfim, seguindo o exemplo de Jesus, compreendi que a capacidade primeira de um líder é o amor. No livro “O monge e o executivo”, o autor trabalha a “liderança servidora”, baseado também nos ensinamentos de Jesus.
Creio que chegou o momento que podemos pensar na “liderança amorosa”, pois tudo começa por aí. Como um dia alguém disse: “Quem não ama para servir não serve para amar”.
Deus nos abençoe!
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Adryadson Flabio Nappi
Professor, contador, teólogo, músico e escritor