A procissão do encontro
A procissão do encontro

(Adryadson Flabio Nappi)

O Catecismo nos ensina que toda a vida de Cristo é mistério (CIC 517). Desta forma, viver a procissão do encontro é, antes de mais nada, contemplar dois grandiosos mistérios de redenção. O primeiro está no silêncio de Jesus e em sua entrega total para restabelecer tudo aquilo que foi perdido pelo nosso pecado. O caminho do calvário nos faz, de alguma forma, lembrar o nosso caminho na vida.

A vida é um caminho particular e requer escolhas e renúncias... Ao caminhar junto ao Senhor dos passos, como homens de Deus, queremos afirmar em nossa alma que somos de Cristo e que aceitamos estar com Ele neste caminho difícil e estreito que é o caminho do Reino, e, acima de qualquer coisa, queremos deixar o pecado do "primeiro" Adão para viver a graça abundante do novo Adão, Jesus Cristo nosso Senhor (cf. Rm 5, 14-15).

Quando unimos nosso coração humano com aquela torturante solidão de Jesus naquele caminho de dores, insultos, calúnias e ódio, estamos diretamente assumindo nossa condição de amigos de Cristo, que caminham com Ele, buscando a salvação em sua redenção integral e única.

Porém, ainda existe um segundo mistério neste caminho silencioso. O silêncio de Maria e sua obediência plena ao desejo de Deus. A "nova Eva" que, vencendo toda a dor dilacerante de ter que entregar injustamente seu Filho amado, permanece ali, sendo, de alguma forma, os Olhos lacrimejantes do Pai que, silenciosamente, dolorosamente, misteriosamente, ignora toda a sua onipotência para salvar seu único Filho das atrocidades humanas.

Deus ainda está em silêncio, nas lágrimas de todas as mães da terra que choram por seus filhos, pois Ele não desdiz e não deseja voltar atrás quando criou o homem a sua imagem e semelhança com a capacidade de fazer suas escolhas com liberdade... Deus não projetou bonecos ou marionetes, mas seres humanos dotados de alma, coração e razão.
Ao ver mulheres caminhando com Maria ao encontro do Senhor, faz-nos lembrar não somente de todos os pais que acompanham seus filhos nos caminhos mais escuros da vida, mas também daqueles pais que abandonam e não alcançam forças para acompanha-los. Faz-nos lembrar que “ainda que uma mãe se esqueça daquele que amamentou, Eu jamais me esquecerei de você” (Isaías 49, 15).

Este encontro misterioso entre a Mãe obediente e o Filho Redentor, de alguma forma extraordinária, restabelece a obediência e a graça de Deus para a humanidade, quebrando a desobediência inicial daquele primeiro casal.

Maria é para Jesus a presença viva de Deus Pai, que não se manifesta por meio de ações miraculosas, mas sim através daquele silêncio angustiante e daquela presença confortante. No ápice de sua dor, ao gritar “Meu Deus porque me abandonastes”, Jesus imediatamente percebe ali sua querida mãe, que no silêncio, seguiu Jesus até o final. Os olhos lacrimejantes da mãe o fazem perceber a lágrima do Pai.

Mas, acima da lágrima, Jesus consegue perceber o amor incondicional que seu Pai tem por seus filhos. Ele nunca O abandonou assim como nunca abandona nenhum de seus filhos. É por meio deste Amor que saem de sua boca a frase: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30). O Amor venceu a morte! O Amor venceu a dor! O Amor permaneceu! A loucura da cruz nos deixa as três únicas coisas que jamais passarão: fé, esperança e amor (cf. Cor 13, 13).

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