(Adryadson Flabio Nappi)
Certo dia Pedro se aproximou de Jesus para perguntar quantas vezes deveria perdoar alguém. Tal pergunta veio seguida de uma resposta exagerada de sua parte: “Até sete vezes?” (cf Mt 18, 21).
Talvez Pedro achasse muito perdoar alguém por sete vezes, e por isso, pensou que Jesus fosse dizer algum número menor. Talvez ele esperasse ouvir de Jesus: “Não Pedro, cinco vezes está de bom tamanho!”.
Realmente perdoar não é algo simples e muito menos fácil. Posso compreender o pensamento de Pedro. Sei que estava se esforçando para compreender os pensamentos insondáveis do Mestre, e, mal sabia que também teria que passar pela experiência do perdão.
Com certeza, ele não imaginava que negaria Jesus no momento ápice de sua missão. Pelo contrário. Estava disposto a trocar sua vida pela vida de Jesus (cf Jo 13, 37). Porém, quando chegou a fraqueza e a decepção, Pedro rendeu-se a sua miséria humana e negou seu amado Mestre e Senhor.
O mesmo ao qual declarou que era o filho do Deus vivo (cf Mt 16, 16) também negou-o por três vezes. Jesus já sabia (cf Jo 13, 38) e ainda assim, o amava e o perdoava. Jesus já estava disposto a perdoar as “setenta vezes sete vezes” (Mt 18, 22).
Não foi preciso. Ele negou três vezes, e Jesus o perdoou as três vezes, fazendo-o ter a certeza de que o amor supera a negação. Três vezes também foi o número que Jesus pediu para confirmar seu amor (cf Jo 21, 17). Se Pedro havia negado a Trindade Santa, era preciso então que reafirmasse seu amor e, ainda assim, Cristo confirmou sua missão: “Cuida das minhas ovelhas” (Jo 21, 17).
Só pode compreender isso quem, antes de tudo aprendeu a essência do amor. Perdoar sempre é para aqueles que amam. Quem é perdoado muito se sente amado assim como, quem aprendeu a perdoar, muito foi amado. Quem muito ama, muito perdoa. Esta é a regra!
Muitos dizem que perdoam mas vivem no ressentimento, portanto, não conseguiram alcançar ainda o verdadeiro perdão. Perdoar não é ressentimento e muito menos esquecimento. Ao perdoar, deixamos de ressentir o pecado do outro em nós e, ainda que lembremos do fato, percebemos que o amor de Deus é muito maior do que o pecado daquele que nos fere.
Tal ato de perdão gera muitos efeitos, porém, existem dois efeitos imediatos. O primeiro, para aqueles que compreendem o amor de Deus, gera um deslumbramento e uma alegria imensa, por saber que o amor de Deus venceu aquela situação de dor e perda.
O segundo, para os que não compreendem, gera indignação, inveja ou ciúmes por perceber que não conseguimos perdoar da mesma forma que o outro perdoou. Revela então a minha fraqueza humana e, para aliviar a minha dor de consciência, prefiro culpar os outros e refugiar nas minhas vãs convicções ao invés de me entregar a misericórdia deste amor-perdão.
Surge então a seguinte indagação: “como ele pôde perdoar tal pessoa depois de tudo o que ela fez?”. Desta forma, deixo de perceber a presença de Deus em minha vida para viver a indignação e o ressentimento.
Assim, ao invés de experimentar um pedaço do céu, ou seja, o lugar dos redimidos e perdoados, experimento em minha vida um pedaço do inferno, onde a falta de perdão é a maior das angústias.
Perdoar setenta vezes sete é, acima de tudo, olhar para o outro e perceber que hoje foi ele quem errou e amanhã serei eu. É perceber que o meu perdão está condicionado ao perdão que dou para os outros.
Assim como disse Santo Agostinho, “quando começar a orar, comece perdoando”.
Que Deus nos abençoe e nos ensine a perdoar sempre.
Vamos à luta! Só se consegue com esforço!